Meu pai
Porque dormem meu filho e meu pai?
Porque tantas coisas a serem ditas e não consigo falar?
Dorme filho, mas desperta, porque sua vida acontece agora e você tem tanto a fazer e viver ainda!
Dorme papai, e me perdoa pois no seu leito de morte não pude compreender...
Não sabia quanto tempo íamos ter e mesmo assim, ou por isso, não aproveitei o suficiente.
Agora dormem, o sono eterno e eu creio, está você no céu. Pai nosso que estais no céu, cuida de meu pai que está contigo, no céu. Em minha fé, sei que foi sempre um pai muito bom, um bom marido, uma boa pessoa, um avô maravilhoso e por isso merece o céu.
Eu não saberia expressar o quanto significa para mim ter sido tua filha, compartilhando minha existência junto a você e a família que com a mamãe criou.
Me perdoa! Perdoa minha impaciência, por não saber como falar, como cuidar de você nos últimos meses de sua vida. Tão difícil pra mim cuidar dos doentes. Estive lá alguns dias, quase todos, quando você ficou no hospital, e você odiava os hospitais, e mudo, em sua dor, não queria conversar.
Tudo aquilo que um dia foi importante, já não o era mais... tudo aquilo que te interessava, já não fazia sentido. Às vezes você me mandava embora, “ Vai Adriana, já é tarde... vai”, você dizia…
Às vezes tentei falar sobre a morte e você não quis. Não, pois ninguém deseja morrer e falar sobre isso não era sua vontade. Para aliviar seu sofrimento, talvez, passasse pela sua cabeça morrer logo, acabar com a dor, mas tinha receio, como todos temos, pois não temos nenhuma certeza do que virá no depois...
No dia do seu exame, eu te fiz andar um tanto, achando, em minha mente doida que seria bom pra você caminhar um pouco. Mas, ouvi depois você falando para a mamãe que judiei de você sem nenhuma necessidade. Me desculpe.
Pai, eu não fiz por mal!
Não queria te machucar, nunca, pois você já estava tão cansado de ser machucado por uma ferida destruindo sua carne e sugando a sua energia, a sua vontade de viver.
Eu poderia ter aproveitado mais o tempo que estive ao seu lado, no hospital? Tentei algumas vezes mas você não quiz, e eu deixei. Só Deus poderá me dizer, um dia, se eu poderia ter feito mais.
Apenas quando te falei da escola de samba campeã daquele ano trocamos algumas palavras, você se interessou um pouco. Mas foi só.
Obriguei-me a olhar a ferida, quando enfermeiros vieram te tratar, e senti uma dor tão grande ao ver o sangue grosso escorrendo, aquela ferida imensa, que doença maldita!
No dia de meu aniversário, passei por lá mas não fiquei... pai, você me disse pra ir, ... e eu fui. Fui egoísta? Não sei, acho que fui, pois como poderia comemorar esta data tendo você no leito de morte?
Me perdoe por algo que fiz que te magoou de alguma forma
Pai querido, que foi um avô mais que “avôhai “, avô e pai para meus filhos...
Pai querido, eu te amo, e um dia quero te reencontrar, para juntos vivermos a eternidade…
Obrigada pai, eu te amo.
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